HISTÓRIAS DO GABRIEL

Era uma vez um menino adorável chamado Gabriel. Ele morava num reino perto daqui, com seus pais, que eram muito amorosos.
Gabriel nasceu com ossos de vidro, que quebravam muito facilmente, até quando espirrava. Desde pequeno ele teve que conviver com essa fragilidade de seu corpo. Até mesmo na barriga de sua mãe, os ossos dele se quebravam.
Mas, ao contrário de previsões médicas, ele foi vivendo e crescendo. Gabriel não andava, vivia deitado eternamente em berço esplêndido. A dedicação e o empenho de seus pais recriavam dia-a-dia o milagre da vida.
Adorava ler gibis e contar piadas, um de seus passatempos prediletos. Aprendeu a ler com sua mãe aos cinco anos.  Inteligente, inquieto, sempre de bom humor, queria ir mais além, explorar outros mundos.
Chegou aos seis anos de idade com o desejo cada vez mais latente de sair da redoma de seu lar e buscar outras convivências, ampliar seus horizontes.
Queria de fato e de direito estudar, não mais somente em sua casa, queria a diversidade de uma escola, com novos amigos, conviver com outras pessoas, explorar novas sensações. 
Mas não poderia fazer isso sozinho, pois tinha ossos de cristal. Nascera com a chamada Síndrome dos Ossos de Vidro, classificada como Osteogênese imperfecta pelos cientistas. 
O reino de Gabriel era recheado de alegria, lençóis macios e muros altos para proteger seu corpo esculpido no mais raro cristal. Mas chegou um dia, que Gabriel começou a ficar triste, muito triste.
Seus pais perceberam e perguntaram o que estava acontecendo. Ele, entediado, respondeu rapidamente:
- Troco meu reino por uma escola com muitos colegas e uma professora.
Então, os pais de Gabriel saíram procurando em outros reinos uma escola para atender ao desejo dele.
Procuraram inicialmente entre os reinos mais luxuosos.
Nada.
Depois foram àqueles cheios de tecnologia.
Nada.
Mais adiante foram ao reino da Esperança, mas ela estava de férias e ninguém sabia quando ia voltar.
Andaram, andaram, esperaram e andaram novamente.
Nada.
Ninguém queria o menino de cristal.
Já cansados, os pais de Gabriel, quase sem fôlego e cor, encontraram duas fadinhas. Elas tilintavam pelo caminho e perguntaram numa só voz:
- Por que vocês estão tristes?
- Por que queremos realizar o desejo do nosso filho.
- E qual é o desejo dele?
- Ele quer uma escola para estudar.
- Então é só isso!?
- Vocês acham que é fácil? Nós já estivemos em vários reinos e nenhum aceitou o nosso Gabriel.
- Não se preocupem, não fiquem triste, nós vamos conceder esse desejo agora mesmo.
Foi assim que as fadinhas apontaram suas varinhas mágicas para o caminho da escola da dona Cordolina, que habitava o reino da diversidade, não muito longe dali.
Lá, nesse reino, dona Cordolina recebia a todos com muito carinho, por isso era um reino tão rico e viçoso.
As fadinhas avisaram dona Cordolina da chegada do Gabriel. E toda a corte foi convocada para a recepção.
Os nativos do reino, vestidos em seus trajes de gala, conduziram Gabriel e seus pais ao portal da sabedoria em liteiras azuis feitas de origami.
Ao chegarem lá, foram apresentados à professora Josefa e aos novos amiguinhos de Gabriel.
Ela era uma mulher muito corajosa e aceitou o desafio de tê-lo como aluno. Josefa tinha cheiro de chocolate e adorava ensinar. Os alunos de dona Josefa vibraram com a chegada do novo colega.
Gabriel encontrou uma professora muito amável. Conviveu com muitos colegas, que se tornaram grandes amigos.
- “Cuidado, esse menino é raro, ele é feito de cristal!”, recomendavam os novos amigos a quem chegasse perto de Gabriel.
A escola da dona Cordolina tinha crianças alegres, cheias de esperança e a magia circulava entre elas. Todos receberam Gabriel com muita naturalidade.
Nesse ambiente Gabriel se sentiu como se estivesse em casa. Podia participar de tudo e saiu distribuindo alegria e sabedoria.
Nas festas juninas tocou coco.
Desenhou os uniformes para os jogos escolares.
Incentivou os amigos atletas criando frases de efeito para a disputa dos jogos internos.
Ali viveu o encantamento amoroso da primeira namorada.
Sem dúvida, encantou muita gente!
Nesse ambiente saudável ofereceu de bom grado suas riquezas e recebeu outras tantas.
“Mas tudo o que é bom dura pouco...”
Gabriel cresceu tanto, mais tanto, que ganhou asas de anjo e saiu voando por aí.
De vez em quando ele pousa aqui e acolá para contar suas histórias e muitas piadas...
                                        
FIM?